terça-feira, 22 de novembro de 2011

caminhão de mudança.

Mudar é um bom verbo. Apenas isso.
Mudar a cara das coisas
Mudar as coisas da cara
Mudar os amigos, os móveis da sala.
Mudar as circunstâncias.
Mudar as aparências.
Mudar a moldura dos ato.s
Mudar os dias.
Os fatos
Os acordos
Os tratos
Mudar o formato do abraço.
Mudar a quem se abraça.
Parar de distribuir abraços de graça.
Estabelecer para o afeto um preço.
de reciprocidade
paciência
apreço
Mudar o próprio nome.
Mudar as estações.
Mudar a direção do norte.
Com sorte.
A vida nos sorri
e nos canta um novo acorde
antes que a morte nos acorde

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O menino.

 
 

 
 

 
 





Lembrete

Jamais esqueça a real medida
esta vida não é estágio
é passagem só de ida
diário de chegada, adeus e partida.

Tarefa

A mim cabe apenas deixar claro o que sinto
Ainda que pouco traduzido
Posto que apenas sentido.

domingo, 13 de novembro de 2011

refrão para a canção de novembro

é novembro
eu sei
embora o calendário permaneça
a estática folha em fevereiro
final de carnaval o ano inteiro.






segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Poema pós águas




espero mesmo que estas águas,
agora tão calmas,
resolvam mover-se e inundar minha casa.

espero que estas águas ocupem todos os espaços e frestas,
semáforos e setas, automóveis e condomínios,
ninhos de pássaros, corações e labirintos.

espero com fé a força das águas que a tudo arrasta,
arrasta arrecifes, carnavais, sombras e sais,
arrasta criaturas, carinhos mofados, gestos banais;

espero que arraste também as raízes que me pregam ao chão,
espero que as correntes me levem;
eu, meus velhos retratos, as fotos do meu cão,
e que a vida se refaça após a catástrofe,       
com minha foto de sobrevivente      
estampada em todos os jornais         
abaixo a seguinte declaração:

eu, que nada mais tenho,       
despeço-me do que fui sem sentir saudades de mim mesmo.

Nesse interim

enquanto vc respira e acorda
enquanto pousa o pássaro na borda
enquanto suspira a criança antes de chegar a mãe
enquanto arqueja o velho antes da tosse
enquanto pragueja minha mãe diante da tv
eu paro e penso nas pessoas
no que elas são ou deixam de ser

enquanto me doem os dentes
enquanto minha face entristece
enquanto me curo da febre
enquanto passam as horas
eu penso no quanto demora
para morrer o verme em meu estômago

enquanto você prepara a lágrima
enquanto minhas mãos abrem um corte
enquanto me sorri a sorte
eu penso em correr
dos cobradores
dos ex-amores
dos pedidos e favores
dos horrores
dos fatores discriminatórios
das dívidas
dos precatórios


dos obtuários
que anunciam minha morte
do fim
que há em todos nós
do enfim, sós.