quarta-feira, 24 de agosto de 2011

amontoado

junte tudo o que não li
todas as coisas que não fiz
tudo o que não tive ou fui.

junte toda tua cor e minha falta de luz.

junte cada cicatriz
cada queda que passou por um triz
cada palavra de ator, cada gesto de atriz
neste palco gris.

junte as amantes do imperador
e a arrogância que te dá no nariz

junte cada peça
amontoe em cada espaço
junte os falsos sorrisos e mordaças
os falsos amores e suas carcaças
junte velhos sorrisos, cartas, trapaças
coroas, caras, carapaças

junte todos os olhares por trás das máscaras
junte as imagens e seus filtros digitais
fotografias e fatos banais.

junte meus silêncios, tuas lágrimas e lenços
agrupe tudo o que for o suficiente denso
minha carne, seu nervo tenso.

junte todos os momentos de ternura
minha fé, sua candura
todas as nobres criaturas que rastejam
todas as outras que farejam
todos os que nada fazem e apedrejam.

junte as luzes da cidade
as lâmpadas de saudade
as sombras de piedade

junte tudo que repousa abaixo deste céu de anil
tudo que anda em quatro ou duas patas
por esta pátria varonil


junte tudo
e mande à puta que o pariu.






terça-feira, 16 de agosto de 2011

quem sabe, há de chegar minha hora?

Quem sabe chegou a hora
pois que já estou de pronto
a aparar arestas da minha blusa
pondo-a para dentro do calção como quando
menino eu era
e me fazia melhor minha mãe
a dizer que abotoasse a bermuda, amarrasse os sapatos
e aparasse a camisa
porque eu tinha mãe assim o era
sendo que o homenzinho dentro de mim ainda inflama
a principair este sentimento de despedida.

quem sabe chegou minha hora
demora pouca é bobagem
dentro de mim vai toda minha bagagem
como um feijão que nasce e cresce na vajem
eu brotei e ramei na vida.

Desejo do ex-amigo 2

que este clamor sobre a língua em agradecimento se transforme
e desta pasta de estupidez disforme
moldemos um caminho.
que está lágrima descida em sal de dedo em riste
diante de ti sirva de exemplo
do quanto sofre um homem a cujo coração
a ingratidão fermenta.
para enfim deitar no ralo este copo dágua de tempestade
feldade, escrotidão, burrice e acidez.

Desejo do ex-amigo.

teu coração aberto feito ostra na colher
que se aparte desta carne de cotidiano e contas a pagar um ser humano.
tua sombra escorrendo pela janela a levar teu corpo
que por si só será mais que um corpo
senão a melhor das pessoas
apenas melhor do que esta agora presente -outrora meu amigo
-agora dor latente.